domingo, 22 de maio de 2011

Saudade

Olá, pessoas!!!!

      Cá estou aqui novamente e ainda com o mesmo tema: o amor e a saudade. Acho que estou meio piegas nestes últimas dias, mas fazer o quê?! Vamos lá!!! Trago um poema de Vinícius de Moraes "Chega de saudade". 
Aproveitem!

Chega de Saudade
Vai, minha tristeza, e diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe, numa prece, que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade, a realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas, se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim

Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim
Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim

Beijos
Amanda

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Amar

Olá, pessoas!!!!

    Nos últimos dias, estou meio melancólica, acho que é porque meu amado marido está longe (viajando a trabalho).  Por isso, trago um poema pequeno, porém muito significativo de Mario Quintana.
 Aí vai.



Amar:

Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora um no outro.



Por hoje é só. Volto amanhã, ou depois, ou depois de amanhã. rsrsrsrsrs
Beijos!
Amanda

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O milagre das folhas

Olá, pessoas!!!!!

     Hoje, por estar gripada e não querer deixar o blog abandonado (tadinho dele rsrsrsrs), farei um post mais enxuto. Trago uma pequena, porém singela, crônica de Clarice Lispector!!!!
Desfrutem!!!!


O milagre das folhas (Clarice Lispector)

Não, nunca me acontecem milagres. Ouço falar, e às vezes isso me basta como esperança. Mas também me revolta: por que não a mim? Por que só de ouvir falar? Pois já cheguei a ouvir conversas assim, sobre milagres: “Avisou-me que, ao ser dita determinada palavra, um objeto de estimação se quebraria.” Meus objetos se quebram banalmente e pelas mãos das empregadas. Até que fui obrigada a chegar à conclusão de que sou daqueles que rolam pedras durante séculos, e não daqueles para os quais os seixos já vêm prontos, polidos e brancos. Bem que tenho visões fugitivas antes de adormecer – seria milagre? Mas já me foi tranquilamente explicado que isso até nome tem: cidetismo, capacidade de projetar no campo alucinatório as imagens inconscientes.
Milagre, não. Mas as coincidências. Vivo de coincidências, vivo de linhas que incidem uma na outra e se cruzam e no cruzamento formam um leve e instantâneo ponto, tão leve e instantâneo que mais é feito de pudor e segredo: mal eu falasse nele, já estaria falando em nada.
Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos cabelos. A incidência da linha de milhares de folhas transformadas em uma única, e de milhões de pessoas a incidência de reduzi-las a mim. Isso me acontece tantas vezes que passei a me considerar modestamente a escolhida das folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais diminuto diamante. Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche morto como lembrança. E também porque sei que novas folhas coincidirão comigo.
Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza.

E aí? O que acharam da crônica?
Espero os comentários de vocês!!!
Beijos
Amanda 

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Banhos de Mar

Olá, pessoas!!!! 

    Hoje estou meio introspectiva, estou meio Clarice Lispector. rsrsrsrsrs Mas não estou assim por estar triste, e sim por estar praticamente sem voz rsrsrsrsrs. Para mim,  que gosto de falar tanto e trabalho "tagarelando", é um martírio ficar em silêncio. Dos males o menor, pelo menos não trabalhei nem hoje nem ontem, por isso, estou descansando a garganta, mas parece não estar surtindo efeito, infelizmente.
    Então, por estar me sentido meio Clarice Lispector, trago hoje uma crônica belíssima sobre o amor dela por Olinda e Recife (sim, Clarice morou, em sua infância, em Recife) e pelo mar, claro. Li essa crônica, ano passado, com os meus alunos do 3 ano e eles gostaram muito. Segue a crônica "Banhos de Mar".


BANHOS DE MAR (Clarice Lispector)
    Meu pai acreditava que todos os anos se devia fazer uma cura de banhos de mar. E nunca fui tão feliz quanto naquelas temporadas de banhos em Olinda, Recife.
   Meu pai também acreditava que o banho de mar salutar era o tomado antes do sol nascer. Como explicar o que eu sentia de presente inaudito em sair de casa de madrugada e pegar o bonde vazio que nos levaria para Olinda ainda na escuridão?
   De noite eu ia dormir, mas o coração se mantinha acordado, em expectativa. E de puro alvoroço, eu acordava às quatro e pouco da madrugada e despertava o resto da família. Vestíamos depressa e saíamos em jejum. Porque meu pai acreditava que assim devia ser: em jejum. Saíamos para uma rua toda escura, recebendo a brisa da pré-madrugada. E esperávamos o bonde. Até que lá de longe ouvíamos o seu barulho se aproximando. Eu me sentava bem na ponta do banco: e minha felicidade começava. Atravessar a cidade escura me dava algo que jamais tive de novo. No bonde mesmo o tempo começava a clarear e uma luz trêmula de sol escondido nos banhava e banhava o mundo.Eu olhava tudo: as poucas pessoas na rua, a passagem pelo campo com os bichos-de-pé: “Olhe um porco de verdade!” gritei uma vez, e a frase de deslumbramento ficou sendo uma das brincadeiras de minha família, que de vez em quando me dizia rindo: “Olhe um porco de verdade”. Passávamos por cavalos belos que esperavam de pé pelo amanhecer.Eu não sei da infância alheia. Mas essa viagem diária me tornava uma criança completa de alegria. E me serviu como promessa de felicidade para o futuro. Minha capacidade de ser feliz se revelava. Eu me agarrava, dentro de uma infância muito infeliz, a essa ilha encantada que era a viagem diária. No bonde mesmo começava a amanhecer. Meu coração batia forte ao nos aproximarmos de Olinda. Finalmente saltávamos e íamos andando para as cabinas pisando em terreno já de areia misturada com plantas. Mudávamos de roupa nas cabinas. E nunca um corpo desabrochou como o meu quando eu saía da cabina e sabia o que me esperava.
   O mar de Olinda era muito perigoso. Davam-se alguns passos em um fundo raso e de repente caía-se num fundo de dois metros, calculo.
  Outras pessoas também acreditavam em tomar banho de mar quando o sol nascia. Havia um salva-vidas que, por uma ninharia de dinheiro, levava as senhoras para o banho: abria os dois braços, e as senhoras, em cada um dos braços, agarravam o banhista para lutar contra as ondas fortíssimas do mar.
   O cheiro do mar me invadia e me embriagava. As algas boiavam. Oh, bem sei que não estou transmitindo o que significavam como vida pura esses banhos em jejum, com o sol se levantando pálido ainda no horizonte. Bem sei que estou tão emocionada que não consigo escrever. O mar de Olinda era muito iodado e salgado. E eu fazia o que no futuro sempre iria fazer: com as mãos em concha, eu as mergulhava nas águas e trazia um pouco de mar até minha boca: eu bebia diariamente o mar, de tal modo queria me unir a ele.Não demorávamos muito. O sol já se levantara todo, e meu pai tinha que trabalhar cedo. Mudávamos de roupa, e a roupa ficava impregnada de sal. Meus cabelos salgados me colavam na cabeça.
   Então esperávamos, ao vento, a vinda do bonde para Recife. No bonde a brisa ia secando meus cabelos duros de sal. Eu às vezes lambia meu braço para sentir sua grossura de sal e iodo.
   Chegávamos em casa e só então tomávamos café. E quando eu me lembrava de que no dia seguinte o mar se repetiria para mim, eu ficava séria de tanta ventura e aventura.
   Meu pai acreditava que não se devia tomar logo banho de água doce: o mar devia ficar na nossa pele por algumas horas. Era contra a minha vontade que eu tomava um chuveiro que me deixava límpida e sem o mar.
   A quem devo pedir que na minha vida se repita a felicidade? Como sentir com a frescura da inocência o sol vermelho se levantar? Nunca mais?
Nunca mais.
Nunca.

E aí? O que acharam da crônica? Contem para mim!!!
Beijos
Amanda

terça-feira, 10 de maio de 2011

O fim do mundo



Olá, pessoas!!!!!


   Hoje, estava pensando no que postar no blog, aí me lembrei da faceta um pouco menos conhecida de Cecília Meireles, que é a de escritora em prosa. Pesquisando, encontrei esta crônica belíssima,cujo título é "Fim do Mundo", mas que na verdade no leva a refletir sobre como conduzimos a nossa vida e o que fazemos dela, uma vez que não sabemos qual será o dia que "teremos fim". Aí vai a crônica de Cecília Meireles. 


O Fim do Mundo (Cecília Meireles)

A primeira vez que ouvi falar no fim do mundo, o mundo para mim não tinha nenhum sentido, ainda; de modo que não me interessava nem o seu começo nem o seu fim. Lembro-me, porém, vagamente, de umas mulheres nervosas que choravam, meio desgrenhadas, e aludiam a um cometa que andava pelo céu, responsável pelo acontecimento que elas tanto temiam.

Nada disso se entendia comigo: o mundo era delas, o cometa era para elas: nós, crianças, existíamos apenas para brincar com as flores da goiabeira e as cores do tapete.

Mas, uma noite, levantaram-me da cama, enrolada num lençol, e, estremunhada, levaram-me à janela para me apresentarem à força ao temível cometa. Aquilo que até então não me interessava nada, que nem vencia a preguiça dos meus olhos pareceu-me, de repente, maravilhoso. Era um pavão branco, pousado no ar, por cima dos telhados? Era uma noiva, que caminhava pela noite, sozinha, ao encontro da sua festa? Gostei muito do cometa. Devia sempre haver um cometa no céu, como há lua, sol, estrelas. Por que as pessoas andavam tão apavoradas? A mim não me causava medo nenhum.

Ora, o cometa desapareceu, aqueles que choravam enxugaram os olhos, o mundo não se acabou, talvez eu tenha ficado um pouco triste - mas que importância tem a tristeza das crianças?

Passou-se muito tempo. Aprendi muitas coisas, entre as quais o suposto sentido do mundo. Não duvido de que o mundo tenha sentido. Deve ter mesmo muitos, inúmeros, pois em redor de mim as pessoas mais ilustres e sabedoras fazem cada coisa que bem se vê haver um sentido do mundo peculiar a cada um.

Dizem que o mundo termina em fevereiro próximo. Ninguém fala em cometa, e é pena, porque eu gostaria de tornar a ver um cometa, para verificar se a lembrança que conservo dessa imagem do céu é verdadeira ou inventada pelo sono dos meus olhos naquela noite já muito antiga.

O mundo vai acabar, e certamente saberemos qual era o seu verdadeiro sentido. Se valeu a pena que uns trabalhassem tanto e outros tão pouco. Por que fomos tão sinceros ou tão hipócritas, tão falsos e tão leais. Por que pensamos tanto em nós mesmos ou só nos outros. Por que fizemos voto de pobreza ou assaltamos os cofres públicos - além dos particulares. Por que mentimos tanto, com palavras tão judiciosas. Tudo isso saberemos e muito mais do que cabe enumerar numa crônica.

Se o fim do mundo for mesmo em fevereiro, convém pensarmos desde já se utilizamos este dom de viver da maneira mais digna.

Em muitos pontos da terra há pessoas, neste momento, pedindo a Deus - dono de todos os mundos - que trate com benignidade as criaturas que se preparam para encerrar a sua carreira mortal. Há mesmo alguns místicos - segundo leio - que, na Índia, lançam flores ao fogo, num rito de adoração.
Enquanto isso, os planetas assumem os lugares que lhes competem, na ordem do universo, neste universo de enigmas a que estamos ligados e no qual por vezes nos arrogamos posições que não temos - insignificantes que somos, na tremenda grandiosidade total.

Ainda há uns dias a reflexão e o arrependimento: por que não os utilizaremos? Se o fim do mundo não for em fevereiro, todos teremos fim, em qualquer mês...


   Reflitamos, junto com Cecília Meireles, sobre o que estamos fazendo de nossas vidas.
Beijos
Amanda

domingo, 8 de maio de 2011

DIA DAS MÃES


Olá, pessoas!!!!

  Hoje, segundo domingo de maio, data em que comemoramos o Dia das mães, venho - como não poderia deixar de ser - parabenizar todas as mães e todas aquelas que estão a caminho de ser mãe. Como forma de homenageá-las, trago quatro poemas, de épocas e poetas distintos, mas que falam sobre a mesma temática: a importância incomensurável das nossas mães. E para aqueles que não têm mais suas mães ao seu lado, saibam que mães nunca abandonam seus filhos, estejam onde estiverem, elas nunca deixarão de amar seus filhos, elas sempre olham e intercedem por eles.
   O primeiro poema é de Olavo Bilac, o segundo, de Carlos Drummond de Andrade e o terceiro, de Mario Quintana e o quarto, de Vinícius de Moraes.
Mater (Olavo Bilac)
Tu, grande Mãe!... do amor de teus filhos escrava,
Para teus filhos és, no caminho da vida,
Como a faixa de luz que o povo hebreu guiava
À longe Terra Prometida.

Jorra de teu olhar um rio luminoso.
Pois, para batizar essas almas em flor,
Deixas cascatear desse olhar carinhoso
Todo o Jordão do teu amor.

E espalham tanto brilho as asas infinitas
Que expandes sobre os teus, carinhosas e belas,
Que o seu grande dano sobe, quando as agitas,
E vai perder-se entre as estrelas.

E eles, pelos degraus da luz ampla e sagrada,
Fogem da humana dor, fogem do humano pé,
E, à procura de Deus, vão subindo essa escada,
Que é como a escada de Jacó.

Descrição: http://mail.globo.com/mail/images/cleardot.gif
Para Sempre (Carlos Drummond de Andrade)

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.


Mãe (Mário Quintana)

Mãe... São três letras apenas

As desse nome bendito:
Também o Céu tem três letras...
E nelas cabe o infinito.
Para louvar nossa mãe,
Todo o bem que se disse
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ela nos quer...
Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do Céu
E apenas menor que Deus!


Minha Mãe (Vinícius de Moraes)

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora.  Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fonte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.

Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão. que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe.


  De qual poema vocês mais gostaram? Me contem!! 
Feliz  Dia das Mães!!!!
Beijos 

Amanda 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Elegias de Cecília Meireles

Olá, pessoas!!!!

      Estou um pouco sumida do nosso blog. Infelizmente, o trabalho vem consumindo muito minhas energias, mas, prometo que vou melhorar a frequência de postagens aqui no nosso "cantinho".
     A maioria das minhas postagens é por causa dos meus alunos, do que estamos lendo em sala, do que estamos estudando, enfim. Porém, algumas das minhas postagens são motivadas por reflexões minhas sobre a vida ou por causa de algum momento da vida. Hoje, a postagem é pelo segundo motivo: momentos da minha vida. Ontem, uma grande amiga minha perdeu sua mais que avó, sua Mãe. E hoje, diante do incomensurável sofrimento vivido por ela e acompanhado por mim, lembrei-me das elegias que Cecília Meireles escreveu, também por ocasião da perda de sua também mais que avó e que mostram, com tanta beleza, como dói perder alguém tão amado. Por isso, hoje, posto duas elegias (poemas feitos por ocasião da morte de alguém. Segundo o dicionário Michaelis, poema pequeno dedicado ao luto ou à tristeza). A primeira que trago, foi a primeira das nove escritas. E por ser a primeira, é a mais dolorida. A segunda que trago, foi a a terceira escrita e já se percebe uma resignação maior, uma saudade maior e uma dor mais branda, como o tempo faz aos corações que perdem alguém.
 Aí vão as elegias.


                                                          1

MINHA PRIMEIRA LÁGRIMA caiu dentro dos teus olhos.
Tive medo de a enxugar: para não saberes que havia caído.
No dia seguinte, estavas imóvel, na tua forma definitiva,
modelada pela noite, pelas estrelas, pelas minhas mãos.
Exalava-se de ti o mesmo frio do orvalho; a mesma claridade
[da lua

Vi aquele dia levantar-se inutilmente para as tuas pálpebras,
e a voz dos pássaros e a das águas de correr, - sem que a
[ recolhessem teus ouvidos inertes.
Onde ficou teu outro corpo? Na parede? Nos móveis? No teto?

Inclinei-me sobre o teu rosto, absoluta, como um espelho.
E tristemente te procurava.
            Mas também isso foi inútil,     como tudo mais.

 



  Aí vai a segunda elegia que trago.



3

MINHA TRISTEZA é não poder mostrar-te as nuvens brancas,
e as flores novas, como aroma em brasa,
com sua coroas crepitantes de abelhas.
Teus olhos sorririam,
agradecendo a Deus o céu e a terra:
eu sentiria teu coração feliz
como um campo onde choveu.
Minha tristeza é não poder acompanhar contigo
o desenho das pombas voantes,
o destino dos trens pelas montanhas
e o brilho tênue de cada estrela
brotando à margem do crepúsculo.
Tomarias o luar nas tuas mãos,
fortes e simples como as pedras,
e dirias apenas: ‘ Como vem tão clarinho!’
E nesse luar das tuas mãos se banharia a minha vida,
sem perturbar sua claridade,
mas também sem diminuir minha tristeza.


Para quem ainda não a conhece, trago uma foto de Cecília Meireles.
     Reflitamos!!!!!

Beijos

Amanda