quarta-feira, 6 de abril de 2011

Ainda Manuel Bandeira


Olá, pessoas!!!!!

   Aqui estou eu novamente trazendo mais poemas de Manuel Bandeira. Os poemas deste post foram sugestões dos meus alunos do 3 ano, como já tinha dito que seria. O que estou achando ótimo é que eles estão conhecendo mais um pouco sobre Bandeira e exercitando o senso estético. Estou adorando ver a diversidade que está aparecendo. Alguns se repetem, como não poderia deixar de ser. Depois, prometo, faço uma estatística dos poemas que mais aparecerem. Agora, vamos lá!!!!

    Trago hoje três exemplos. O primeiro sugestão de João Augusto é o poema "Auto-retrato". O segundo, indicação de Maria Tereza, é  o poema "Tu que me deste o cuidado" e por fim, mas não menos importante, é o poema "Nú", indicação de Maria Clara. Nesta pequena amostra de poemas de Manuel Bandeira que temos, já é possível perceber como era diverso o repertório poético de Bandeira. Ele fala, só com o que temos aqui, sobre ele próprio; sobre a necessidade de afeto ou alguém que lhe deu afeto; e sobre a beleza do nu feminino ou, usando as próprias palavas de Badeira em "Evocação do Recife" (poema que A-DO-RO), o seu momento de ALUMBRAMENTO. Deixemos de muita conversa e vejamos ou leiamos como nosso próprios olhos e corações. Deliciem-se!!


Auto-Retrato

Provinciano que nunca soube

Escolher bem uma gravata;

Pernambucano a quem repugna

A faca do pernambucano;

Poeta ruim que na arte da prosa

Envelheceu na infância da arte,

E até mesmo escrevendo crônicas

Ficou cronista de província;

Arquiteto falhado, músico

Falhado (engoliu um dia

Um piano, mas o teclado

Ficou de fora); sem família,

Religião ou filosofia;

Mal tendo a inquietação de espírito

Que vem do sobrenatural,

E em matéria de profissão

Um tísico profissional. 

Achei esta charge abaixo e acho que ela "casa" perfeitamente com o poema acima. rsrsrsrs

 

Vamos aos próximos!!!!


TU QUE ME DESTE O TEU CUIDADO...
Tu que me deste o teu carinho

E que me deste o teu cuidado,

Acolhe ao peito, como o ninho

Acolhe ao pássaro cansado,

O meu desejo incontentado.


Há longos anos ele arqueja

Em aflitiva escuridão.

Sê compassiva e benfazeja.

Dá-lhe o melhor que ele deseja:

Teu grave e meigo coração.


Sê compassiva. Se algum dia

Te vier do pobre agravo e mágoa,

Atende à sua dor sombria:

Perdoa o mal que desvaria

E traz os olhos rasos de água.


Não te retires ofendida.

Pensa que nesse grito vem

O mal de toda a sua vida:

Ternura inquieta e malferida

Que, antes, não dei nunca a ninguém.


E foi melhor nunca ter dado:

Em te pungido algum espinho,

Cinge-a ao teu peito angustiado.

E sentirás o meu carinho.

E setirás o meu cuidado.

 E agora, o terceiro.
 


Quando estás vestida,

Ninguém imagina

Os mundos que escondes

Sob as tuas roupas.


(Assim, quando é dia,

Não temos noção

Dos astros que luzem

No profundo céu.


Mas a noite é nua,

E, nua na noite,

Palpitam teus mundos

E os mundos da noite.


Brilham teus joelhos,

Brilha o teu umbigo,

Brilha toda a tua

Lira abdominal.


Teus exíguos

- Como na rijeza

Do tronco robusto

Dois frutos pequenos -


Brilham.) Ah, teus seios!

Teus duros mamilos!

Teu dorso! Teus flancos!

Ah, tuas espáduas!


Se nua, teus olhos

Ficam nus também:

Teu olhar, mais longe,

Mais lento, mais líquido.


Então, dentro deles,

Bóio, nado, salto

Baixo num mergulho

Perpendicular.


Baixo até o mais fundo

De teu ser, lá onde

Me sorri tu'alma

Nua, nua, nua... 



E aí? O que acharam? Cadê as vozes masculinas? 

Em breve, volto com mais Manuel Bandeira. Com a diversidade de poemas que venho recebendo, terei material para nos deliciarmos por umas duas semanas com o magnífico Bandeira.

Beijos

Amanda 

Um comentário: